Retrospectiva meteorológica SDC/SC: 08/2024 – Agosto de 2024 com pouca chuva, eventos de frio intenso, nevoeiros e muita fumaça de queimadas
Meteorologista: Francine Sacco
Agosto é normalmente o mês do ano com os menores volumes de chuva esperados em Santa Catarina. No entanto, em 2024, essa condição foi ainda mais acentuada, já que, na maioria dos dias, não houve registro de precipitação superior a 1 mm, resultando em praticamente nenhum acumulado de chuva (Figura 1a) e precipitação abaixo da média em todo o estado. A exceção foi o Extremo Oeste, onde os acumulados atingiram a média em um único evento de chuva (Figura 1b).
Essa escassez de chuva pode ser explicada pela influência frequente e persistente de bloqueios atmosféricos, que dificultaram o avanço de sistemas causadores de precipitação para Santa Catarina. Durante grande parte do mês, as frentes frias chegavam até a fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai, sendo “desviadas” para o mar sem afetar o tempo no restante da região Sul.
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Figura 1: Dias sem registro de chuva em SC no mês de agosto/2024 (a) e anomalia de precipitação acumulada no mês de agosto/2024 (b). Fonte: SDC/SC
Embora os eventos de chuva tenham sido escassos, os nevoeiros, especialmente os marítimos, foram frequentes. Esse tipo de nevoeiro é caracterizado por sua intensidade e persistência, formando-se quando o ar quente avança sobre águas mais frias, o que provoca a condensação e a formação das nuvens. As imagens de satélite mostradas na Figura 2 revelam a presença de nevoeiro marítimo a partir de 1º de agosto, que se estendeu até o dia 7. Posteriormente, entre 14 e 19 de agosto, outro evento persistente de nevoeiro marítimo afetou a região, durando pelo menos cinco dias.
01/08/24 – 22:00 | 07/08/24 – 16:00 |
14/08/24 – 08:30 | 19/08/24 – 21:30 |
Figura 2: Imagem do satélite GOES-16 em diferentes canais mostrando os nevoeiros marítimos persistentes na costa de SC.
Outro destaque deste mês foi a presença de fumaça proveniente das queimadas na região central e na Amazônia, que foi canalizada para o Sul do Brasil pelo Jato de Baixos Níveis. Em alguns dias, foi possível observar a combinação de fumaça e nevoeiro simultaneamente, como ilustrado na Figura 3. Essa situação foi detalhada na Nota Meteorológica SDC/SC 16/08 N° 074, que abordou a chegada da fumaça das queimadas da Amazônia e do Brasil Central a Santa Catarina.
Figura 3: Imagem do satélite GOES-16 em diferentes canais mostrando o transporte de fumaça para o Sul do Brasil, entre os dias 15 e 19/08/24. Fonte: DSAT – CPTEC/INPE.
As poucas frentes frias que passaram por Santa Catarina apresentaram trajetórias marítimas, mas trouxeram, em sua retaguarda, massas de ar frio de origem polar, provocando um declínio acentuado das temperaturas. Esses eventos resultaram em dois episódios de precipitação invernal na Serra Catarinense: o primeiro ocorreu entre a noite de sexta-feira (09) e a madrugada de sábado (10/08), e o segundo, na tarde de 24/08.